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O que Acontece se o Plano de Saúde Não Cumprir a Liminar?

A relação entre pacientes e planos de saúde frequentemente envolve questões jurídicas, especialmente quando se trata de fornecimento de medicamentos de alto custo, tratamentos urgentes ou cirurgias complexas. Quando o plano de saúde se recusa a autorizar um tratamento necessário e o paciente precisa de uma resposta imediata, uma solução comum é recorrer ao Poder Judiciário para solicitar uma liminar. Porém, mesmo após a concessão da liminar, alguns planos de saúde podem não cumprir essa decisão judicial de forma voluntária.

Neste artigo, vamos abordar o que é uma liminar, quais são as implicações jurídicas para o plano de saúde que não a cumpre e quais são os direitos do paciente nessa situação. Vamos explorar também as consequências legais para as operadoras de saúde e os mecanismos disponíveis para fazer valer uma decisão liminar.

O que é uma Liminar?

Uma liminar é uma decisão judicial provisória concedida em caráter de urgência, antes do julgamento final de um processo. Ela é utilizada quando há risco de que o atraso em uma decisão judicial possa causar danos irreversíveis ao autor da ação. No contexto dos planos de saúde, liminares são frequentemente solicitadas para garantir o fornecimento imediato de medicamentos, tratamentos ou procedimentos médicos negados pelo plano de saúde, garantindo assim o direito à saúde do paciente.

A liminar é baseada em dois requisitos principais: o periculum in mora (risco de dano pela demora) e o fumus boni iuris (fumaça do bom direito, ou seja, a plausibilidade do direito alegado). Se o juiz identificar que a não concessão imediata da liminar pode causar danos graves ao paciente, ele pode decidir pela sua concessão para garantir o tratamento enquanto o processo principal ainda está em andamento.

O Que Pode Motivar uma Liminar Contra o Plano de Saúde?

Os pacientes podem buscar uma liminar judicial em diversas situações em que o plano de saúde se recusa a oferecer cobertura ou atrasa a autorização de tratamentos. Algumas das situações mais comuns incluem:

• Negativa de cobertura de tratamentos urgentes ou cirurgias.

• Negativa de fornecimento de medicamentos de alto custo.

• Recusa de tratamentos experimentais ou fora do rol da ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar).

• Demora excessiva na realização de exames diagnósticos.

• Tratamentos de doenças graves, como câncer ou doenças degenerativas.

Nessas situações, a liminar pode ser solicitada para assegurar que o plano de saúde ofereça o tratamento ou medicamento necessário de forma rápida, minimizando os riscos à saúde do paciente.

O Que Acontece se o Plano de Saúde Não Cumprir a Liminar?

Quando um juiz concede uma liminar contra o plano de saúde, o cumprimento imediato da decisão é obrigatório. O não cumprimento da liminar por parte do plano de saúde pode gerar diversas consequências legais, além de afetar diretamente a saúde do paciente.

1. Multa Diária (Astreintes)

Uma das consequências mais imediatas para o plano de saúde que descumpre uma liminar é a aplicação de astreintes, que são multas diárias determinadas pelo juiz para cada dia de descumprimento. O valor da multa é definido pelo magistrado no momento em que a liminar é concedida, e o objetivo é pressionar a operadora a cumprir a ordem judicial o mais rápido possível.

O valor das astreintes pode variar de acordo com a gravidade da situação e o impacto do descumprimento para o paciente. Em casos de maior urgência, como tratamentos que envolvem risco de morte, as multas tendem a ser mais elevadas.

Exemplo: Se o juiz fixar uma multa diária de R$ 5.000,00 e o plano de saúde demorar 10 dias para cumprir a liminar, o valor acumulado da multa será de R$ 50.000,00.

2. Bloqueio de Valores em Contas Bancárias

Se o plano de saúde continuar a descumprir a liminar mesmo com a aplicação de multas, o juiz pode determinar o bloqueio de valores nas contas bancárias da operadora para garantir o cumprimento da decisão. Esse bloqueio, conhecido como penhora online, pode ser realizado de forma automática, utilizando sistemas como o BACENJUD, que conecta o sistema bancário ao Poder Judiciário.

Dessa forma, o valor necessário para custear o tratamento ou o medicamento solicitado pelo paciente pode ser bloqueado diretamente nas contas da operadora de saúde.

3. Responsabilidade Civil e Penal dos Gestores

O descumprimento de uma liminar pode acarretar a responsabilidade civil e até penal dos gestores da operadora de saúde. Se o não cumprimento resultar em agravamento da condição de saúde do paciente ou até mesmo em sua morte, os responsáveis pela operadora podem ser responsabilizados judicialmente.

A responsabilidade penal pode ser aplicada em casos de dolo ou má-fé por parte da operadora de saúde, especialmente quando há indícios de que o descumprimento foi deliberado para postergar a execução da decisão judicial. Isso pode ser interpretado como crime de desobediência, previsto no Código Penal, com penas que podem variar de detenção a multas.

4. Ação de Indenização por Danos Morais e Materiais

Além das sanções aplicadas no processo judicial, o paciente pode ingressar com uma ação de indenização por danos morais e danos materiais decorrentes do descumprimento da liminar.

Os danos morais estão relacionados ao sofrimento psicológico, à angústia e à aflição causados pelo não cumprimento do tratamento. Já os danos materiais envolvem os custos financeiros que o paciente possa ter assumido para realizar o tratamento de forma particular ou para mitigar os danos causados pela demora no atendimento.

Os valores de indenização podem variar, mas são especialmente altos em casos onde o descumprimento da liminar colocou a vida do paciente em risco ou agravou significativamente sua condição de saúde.

5. Intervenção do Ministério Público e da ANS

Em casos de descumprimento reiterado de liminares, o Ministério Público e a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) podem ser acionados para investigar a conduta da operadora de saúde.

A ANS é o órgão responsável pela fiscalização dos planos de saúde no Brasil e tem o poder de aplicar sanções administrativas às operadoras que não cumprem suas obrigações, incluindo a suspensão da comercialização de novos planos ou até a cassação da licença de funcionamento da empresa.

Além disso, o Ministério Público pode intervir no caso para garantir que o plano de saúde cumpra com suas obrigações legais e proteja o direito à saúde dos pacientes.

Quais São os Direitos do Paciente?

O paciente que obtém uma liminar a seu favor tem o direito de receber o tratamento ou medicamento solicitado de forma imediata. Caso o plano de saúde descumpra a decisão judicial, o paciente deve:

• Comunicar imediatamente o advogado responsável pelo processo sobre o descumprimento da liminar.

• Solicitar a aplicação de multas diárias e outras medidas coercitivas para garantir o cumprimento.

• Registrar queixa junto à ANS e ao Procon, órgãos de defesa dos direitos dos consumidores, para pressionar o plano de saúde a cumprir a decisão.

Além disso, o paciente tem o direito de ser indenizado por eventuais danos morais e materiais causados pelo descumprimento da liminar, conforme discutido anteriormente.

Como Garantir o Cumprimento da Liminar?

Para aumentar as chances de cumprimento imediato da liminar, é importante seguir algumas recomendações:

1. Acompanhamento Jurídico Próximo

O advogado responsável pelo caso deve estar atento ao cumprimento da decisão judicial e agir rapidamente em caso de descumprimento. É fundamental que o advogado acompanhe de perto o processo e mantenha o juiz informado sobre qualquer atraso ou resistência do plano de saúde.

2. Provas do Descumprimento

O paciente e seu advogado devem reunir provas do descumprimento da liminar, como e-mails, mensagens, documentos e gravações de conversas com o plano de saúde. Essas provas são essenciais para demonstrar ao juiz que a operadora está resistindo ao cumprimento da ordem judicial.

3. Comunicação com o Juiz

Em caso de descumprimento, o advogado deve comunicar imediatamente ao juiz responsável pelo processo, solicitando a aplicação de sanções mais severas, como o bloqueio de valores ou a responsabilização dos gestores da operadora.

4. Ação Junto à ANS

O paciente ou seu advogado também pode acionar a ANS para denunciar o descumprimento da liminar. A agência tem o poder de intervir administrativamente, aplicando multas e outras sanções à operadora de saúde.

Conclusão

O não cumprimento de uma liminar por parte de um plano de saúde é uma grave violação dos direitos do paciente e pode resultar em consequências jurídicas significativas para a operadora. Multas diárias, bloqueio de valores, responsabilização dos gestores e ações de indenização são algumas das penalidades que podem ser aplicadas. Além disso, o paciente tem o direito de buscar a execução da decisão judicial e ser indenizado por eventuais prejuízos sofridos.

Garantir que a liminar seja cumprida é um direito do paciente, e o apoio de um advogado especializado em direito à saúde é fundamental para assegurar que o plano de saúde cumpra suas obrigações.