Negativa de Tratamento para Doenças Degenerativas: Quais São os Direitos?
As doenças degenerativas são condições de saúde progressivas que afetam células, tecidos e órgãos ao longo do tempo, resultando em perda funcional irreversível. Elas podem comprometer gravemente a qualidade de vida dos pacientes, exigindo tratamentos contínuos e, frequentemente, caros. Nesse contexto, a negativa de tratamento por parte dos planos de saúde, seja em relação a medicamentos, terapias ou procedimentos médicos, pode agravar ainda mais a situação do paciente e levantar questões legais complexas.
Neste artigo, vamos explorar os direitos dos pacientes diante da negativa de tratamentos para doenças degenerativas, abordando as obrigações dos planos de saúde, as proteções legais e como o sistema jurídico brasileiro tem tratado esse tipo de situação.
O Que São Doenças Degenerativas?
As doenças degenerativas são um grupo de condições médicas caracterizadas pela deterioração progressiva das células, tecidos e órgãos do corpo. Elas envolvem a perda de função de um órgão ou sistema do corpo ao longo do tempo, frequentemente de maneira irreversível. O termo "degenerativo" refere-se à forma como o processo de destruição das células ou estruturas acontece, geralmente de forma gradual, e tende a ser mais acentuado com o passar dos anos.
Essas doenças podem afetar diferentes partes do corpo, como o sistema nervoso, os músculos, as articulações, os ossos ou outros órgãos vitais. Muitas vezes, elas são crônicas, o que significa que a progressão dos sintomas é contínua e não tem cura definitiva. O tratamento, portanto, busca aliviar os sintomas, retardar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida dos pacientes.
Exemplos Comuns de Doenças Degenerativas
1. Doença de Alzheimer:
o A doença de Alzheimer é uma condição neurodegenerativa que afeta a memória, o pensamento e o comportamento. Ela é caracterizada pela perda gradual das funções cognitivas, como a memória de curto prazo, o raciocínio e a capacidade de tomar decisões. O Alzheimer é mais comum em idosos e é uma das formas mais conhecidas de demência.
2. Doença de Parkinson:
o A doença de Parkinson afeta o sistema nervoso central e causa tremores, rigidez muscular, lentidão nos movimentos e dificuldades de equilíbrio. É uma condição neurodegenerativa progressiva, que compromete a função motora do paciente, dificultando atividades cotidianas.
3. Esclerose Múltipla:
o A esclerose múltipla é uma doença autoimune que afeta o sistema nervoso central, resultando em danos à mielina (substância que reveste as fibras nervosas), causando problemas de comunicação entre o cérebro e o restante do corpo. Os sintomas incluem fraqueza muscular, problemas de coordenação e equilíbrio, distúrbios visuais e dificuldade de fala.
4. Distrofias Musculares:
o As distrofias musculares são um grupo de doenças genéticas que causam fraqueza e degeneração progressiva dos músculos esqueléticos, afetando a capacidade de movimento. A forma mais comum é a distrofia muscular de Duchenne, que geralmente afeta meninos e leva à perda total da mobilidade em estágios avançados.
5. Osteoartrite:
o A osteoartrite é uma doença degenerativa das articulações que causa o desgaste da cartilagem, levando a dor, rigidez e, eventualmente, incapacidade de movimento. Embora possa afetar qualquer articulação, é mais comum nas articulações do joelho, quadril, mãos e coluna.
6. Doenças Cardiovasculares Degenerativas:
o Algumas doenças cardiovasculares, como a insuficiência cardíaca congestiva, podem ser classificadas como degenerativas, pois envolvem o enfraquecimento gradual do coração e sua capacidade de bombear sangue de maneira eficaz, o que pode resultar em falência cardíaca.
7. Retinopatia Diabética:
o A retinopatia diabética é uma doença degenerativa que afeta a retina, muitas vezes associada ao diabetes mellitus. A condição pode levar à perda da visão, pois causa danos aos vasos sanguíneos da retina, resultando em hemorragias ou acúmulo de fluido que afetam a função visual.
Características Comuns das Doenças Degenerativas
• Progressão Gradual: As doenças degenerativas geralmente se desenvolvem lentamente e os sintomas pioram ao longo do tempo. Isso significa que o paciente pode não perceber os sinais iniciais da doença até que ela tenha avançado consideravelmente.
• Perda de Função: O principal impacto das doenças degenerativas é a perda de função dos órgãos ou sistemas afetados. Por exemplo, no caso da Doença de Alzheimer, a perda de memória é um dos primeiros sintomas, enquanto na doença de Parkinson, os movimentos se tornam cada vez mais restritos.
• Irreversibilidade: Em muitos casos, uma vez que a degeneração começa, ela não pode ser revertida. O tratamento, então, se concentra em retardar a progressão e melhorar a qualidade de vida, mas não há cura definitiva para a doença.
• Impacto na Qualidade de Vida: Como as doenças degenerativas afetam aspectos essenciais da vida, como a capacidade de movimento, cognição e comunicação, elas geralmente têm um grande impacto na qualidade de vida do paciente. Isso pode resultar em necessidades de cuidados contínuos ou assistência.
Causas das Doenças Degenerativas
As causas das doenças degenerativas podem ser variadas e muitas vezes envolvem uma combinação de fatores genéticos, ambientais e de estilo de vida. Alguns fatores de risco incluem:
• Genética: Muitas doenças degenerativas são hereditárias ou têm uma predisposição genética. Por exemplo, as distrofias musculares são doenças genéticas que afetam predominantemente homens devido à herança ligada ao cromossomo X.
• Envelhecimento: O envelhecimento é um dos fatores principais no desenvolvimento de várias doenças degenerativas, como a osteoartrite, as doenças cardiovasculares e a Doença de Alzheimer. À medida que envelhecemos, as células do corpo naturalmente se desgastam, o que pode aumentar a probabilidade de doenças degenerativas.
• Estilo de Vida: Fatores como dieta inadequada, sedentarismo, consumo excessivo de álcool e tabagismo podem aumentar o risco de desenvolver doenças degenerativas, especialmente as cardiovasculares e metabólicas.
• Fatores Ambientais: A exposição a toxinas ambientais, como poluentes e produtos químicos, também pode desempenhar um papel no desenvolvimento de algumas doenças degenerativas, incluindo doenças neurodegenerativas como a esclerose múltipla.
Tratamento de Doenças Degenerativas
O tratamento para doenças degenerativas varia de acordo com o tipo de doença e sua gravidade, mas, em geral, visa aliviar os sintomas, retardar a progressão da doença e melhorar a qualidade de vida do paciente. Em alguns casos, tratamentos como medicamentos, fisioterapia e terapias de reabilitação podem ser eficazes.
Embora não exista cura para muitas doenças degenerativas, o diagnóstico precoce e o tratamento adequado podem ajudar a controlar os sintomas e a melhorar a autonomia do paciente. Para doenças neurodegenerativas, como a Doença de Alzheimer e o Parkinson, medicamentos podem ser prescritos para melhorar a função cognitiva e motora. Já para doenças musculares, como a distrofia muscular, a fisioterapia pode ser crucial para melhorar a mobilidade e a qualidade de vida.
O Papel dos Planos de Saúde
Os planos de saúde são obrigados a oferecer cobertura para uma série de tratamentos médicos, incluindo aqueles para doenças degenerativas. No entanto, a recusa de cobertura de tratamentos necessários pode ocorrer devido a diversos fatores, como o alto custo de certos medicamentos ou procedimentos, a alegação de que o tratamento não está incluído no rol de procedimentos da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) ou mesmo a interpretação restritiva do contrato de plano de saúde.
É importante ressaltar que os planos de saúde no Brasil são regulados pela Lei nº 9.656/1998, que estabelece as regras para os serviços de saúde suplementar, e pela ANS, que é o órgão responsável por regular, normatizar, controlar e fiscalizar as operadoras de planos de saúde. Essa legislação garante que os planos de saúde cubram tratamentos necessários para a preservação da saúde, conforme a prescrição médica, independentemente de estarem ou não no rol de procedimentos obrigatórios da ANS.
Direitos do Paciente Diante da Negativa de Tratamento
Quando um plano de saúde se recusa a cobrir um tratamento para doenças degenerativas, o paciente tem vários direitos garantidos por lei. Esses direitos são fundamentais para assegurar que o tratamento adequado seja disponibilizado, garantindo o bem-estar do paciente.
1. Direito à Cobertura Integral de Tratamento
De acordo com o Código de Defesa do Consumidor (CDC), a negativa de cobertura de um tratamento prescrito pelo médico, especialmente para doenças graves ou degenerativas, pode ser considerada abusiva. O artigo 51 do CDC considera nulas as cláusulas contratuais que estabeleçam limitações para tratamentos imprescindíveis à saúde, especialmente quando não estão em desacordo com as necessidades médicas. Ou seja, se um tratamento é prescrito pelo médico como essencial para o controle ou melhora do quadro da doença degenerativa, o plano de saúde deve cobri-lo, independentemente de estar ou não previsto no rol da ANS.
2. Direito à Prescrição Médica como Determinante para Cobertura
A legislação brasileira garante que a prescrição médica deve ser o critério principal para determinar os tratamentos a serem seguidos, inclusive quando se trata de doenças degenerativas. Assim, mesmo que o tratamento para a doença não esteja claramente especificado no contrato do plano de saúde, a operadora não pode se recusar a cobrir o procedimento caso o médico o considere necessário para o controle da doença e a melhoria da qualidade de vida do paciente.
A Lei dos Planos de Saúde (Lei nº 9.656/1998) define que a cobertura dos planos de saúde deve abranger todos os procedimentos que forem necessários ao tratamento, inclusive aqueles não previstos explicitamente no rol de procedimentos da ANS, quando recomendados pelo médico. Se um médico especializado prescrever determinado medicamento ou procedimento, mesmo que este não esteja listado, a operadora de plano de saúde deve cobrir o tratamento.
3. Direito à Solicitação de Revisão da Negativa
Se um plano de saúde negar a cobertura de um tratamento para uma doença degenerativa, o paciente tem o direito de solicitar uma revisão da negativa. O artigo 12 da Resolução Normativa nº 428/2017 da ANS estabelece que os planos de saúde devem ter mecanismos claros e acessíveis de contestação, permitindo que o paciente requeira a revisão da decisão de negativa de cobertura.
Em muitos casos, a operadora de plano de saúde pode se basear em critérios administrativos para negar a cobertura, como alegar que o tratamento não é recomendado por diretrizes técnicas, ou que ele é experimental. No entanto, quando o médico do paciente prescreve o tratamento como necessário, o paciente tem o direito de solicitar uma segunda avaliação, seja por meio de uma junta médica da operadora, seja por meio da intermediação de órgãos como a ANS.
4. Direito ao Acesso à Justiça
Se a negativa de tratamento para doenças degenerativas for indevida ou abusiva, o paciente tem o direito de recorrer ao Poder Judiciário. O Supremo Tribunal Federal (STF) tem decidido, em diversas ocasiões, que os planos de saúde não podem restringir tratamentos essenciais à saúde do paciente com base apenas em restrições contratuais. Em muitos casos, o Judiciário tem determinado que os planos de saúde sejam obrigados a cobrir tratamentos essenciais para doenças degenerativas, independentemente do contrato.
O paciente também pode buscar reparação por danos morais e materiais se a negativa de cobertura resultar em sofrimento adicional, agravamento da condição de saúde ou atraso no início do tratamento. A jurisprudência tem reforçado que a negativa de tratamentos para doenças graves e degenerativas, especialmente quando há risco à vida do paciente, configura uma falha na prestação do serviço.
5. Direito ao Acompanhamento e Continuidade do Tratamento
A negativa de tratamento por parte dos planos de saúde, especialmente em relação a doenças degenerativas, é uma situação que pode gerar grandes preocupações e desafios para os pacientes e suas famílias. O direito à saúde é fundamental no Brasil, sendo garantido pela Constituição Federal de 1988, e a recusa a fornecer cuidados adequados pode ser considerada uma violação desse direito. Diante disso, os pacientes possuem uma série de direitos que visam protegê-los em situações de negativa de tratamento, incluindo tratamentos para doenças degenerativas.
1. O Direito à Saúde no Brasil
O direito à saúde é um direito fundamental assegurado pela Constituição Brasileira de 1988, no seu artigo 196. Esse artigo estabelece que "a saúde é direito de todos e dever do Estado", o que implica que tanto o Estado quanto os planos de saúde têm a obrigação de oferecer cuidados médicos adequados aos cidadãos.
A Lei dos Planos de Saúde (Lei nº 9.656/98) e as resoluções da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS) também reforçam esse direito, detalhando as condições de cobertura dos planos de saúde, incluindo os tratamentos necessários para doenças degenerativas.
No caso de doenças degenerativas, como Alzheimer, Parkinson, esclerose múltipla, entre outras, o tratamento deve ser fornecido pelos planos de saúde, uma vez que essas doenças demandam cuidados contínuos e intervenções para retardar sua progressão e melhorar a qualidade de vida do paciente. A recusa por parte do plano de saúde em cobrir esses tratamentos pode ser considerada abusiva e ilegal, colocando em risco a saúde do paciente e violando seus direitos.
2. O Que Caracteriza a Negativa de Tratamento?
A negativa de tratamento ocorre quando o plano de saúde se recusa a autorizar ou fornecer determinado procedimento médico, exame ou medicamento, mesmo quando indicado pelo médico do paciente. Essa negativa pode ocorrer por diversas razões, entre as quais se destacam:
• Falta de cobertura contratual: O plano de saúde pode alegar que o tratamento não está previsto no contrato ou que o tipo de tratamento solicitado não é adequado.
• Critérios econômicos: Alguns planos de saúde podem negar tratamentos de alto custo, alegando que são financeiros ou que o tratamento não está incluído na cobertura básica contratada.
• Mudança nas condições de cobertura: Alterações no plano ou nas coberturas oferecidas podem resultar na recusa de tratamentos específicos que anteriormente eram fornecidos.
É importante observar que, em muitos casos, a negativa do plano de saúde é uma violação dos direitos do paciente, especialmente quando se trata de tratamentos que são essenciais para preservar a saúde e a qualidade de vida.
3. Como Agir Diante da Negativa de Tratamento?
Caso o plano de saúde negue o tratamento, o paciente pode adotar uma série de medidas para garantir seus direitos. Os passos a seguir incluem:
3.1 Solicitar um Novo Pedido ao Plano de Saúde
Antes de recorrer ao Judiciário, o paciente pode entrar em contato com o plano de saúde para discutir a negativa e tentar apresentar mais informações que justifiquem o tratamento solicitado. Em muitos casos, uma revisão do pedido pode resultar na aprovação do tratamento.
3.2 Procurar a ANS (Agência Nacional de Saúde Suplementar)
Caso a negativa persista, o paciente pode denunciar a situação à ANS, que pode intervir no processo. A ANS é responsável por regulamentar os planos de saúde e garantir que as operadoras cumpram a legislação, podendo aplicar penalidades ao plano de saúde que se recusar a fornecer tratamentos legais.
3.3 Procurar Orientação Jurídica
Em casos de negativa de tratamento, a orientação de um advogado especializado em direitos do consumidor ou em direitos à saúde é fundamental. O advogado pode orientar o paciente sobre os melhores caminhos legais, como o ajuizamento de uma ação judicial para garantir a cobertura do tratamento.
3.4 Ajuizar uma Ação Judicial
Se a recusa do plano de saúde continuar, o paciente pode entrar com uma ação judicial solicitando a cobertura do tratamento. Nesses casos, é possível pedir uma tutela de urgência, ou seja, que o juiz determine que o tratamento seja fornecido imediatamente, com base na gravidade da doença e na urgência do caso.
3.5 Acionar o Ministério Público
Em casos mais graves, o paciente pode acionar o Ministério Público, que tem o poder de investigar práticas abusivas e atuar em defesa dos direitos da saúde pública.
Conclusão
As doenças degenerativas representam grandes desafios para os pacientes, pois envolvem tratamentos contínuos e de alto custo. Quando o plano de saúde se recusa a cobrir esses tratamentos essenciais, o paciente deve se valer dos direitos garantidos pela legislação brasileira para garantir o acesso aos cuidados necessários.
Com a proteção oferecida pelo Código de Defesa do Consumidor, a Lei dos Planos de Saúde e a ANS, os pacientes podem contestar as negativas de cobertura, buscar a revisão das decisões e, quando necessário, recorrer ao Judiciário para garantir que seus direitos à saúde sejam respeitados. O mais importante é que os pacientes estejam cientes de que, mesmo diante da recusa de tratamento, existem mecanismos legais para garantir que eles recebam o tratamento adequado para suas condições de saúde.


