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Como Conseguir Medicamentos de Alto Custo sem Cobertura do Plano de Saúde?

Medicamentos de alto custo são essenciais para o tratamento de diversas condições médicas graves, como doenças raras, crônicas e até mesmo cânceres. No entanto, muitos pacientes enfrentam dificuldades quando seus planos de saúde não cobrem tais medicamentos, resultando em uma carga financeira significativa e, muitas vezes, em sérios riscos para a saúde. Neste contexto, é fundamental compreender as alternativas para conseguir o medicamento necessário sem a cobertura do plano de saúde.

Este artigo oferece um panorama detalhado de como os pacientes podem buscar alternativas para obter medicamentos de alto custo quando o plano de saúde se recusa a cobri-los.

1. Entendendo a Cobertura de Medicamentos no Plano de Saúde

A cobertura de medicamentos pelos planos de saúde é um tema frequentemente cercado por dúvidas e desafios, especialmente quando se trata de medicamentos de alto custo. O entendimento do que os planos de saúde são obrigados a cobrir e quais são as limitações contratuais é essencial para pacientes que dependem de tratamentos específicos e caros.

Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da ANS

O principal regulador dos planos de saúde no Brasil é a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Essa agência estabelece o Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde, uma lista que define os tratamentos, exames e medicamentos que os planos de saúde devem obrigatoriamente cobrir. Essa lista é revisada periodicamente e inclui:

• Medicamentos para uso em ambiente hospitalar;

• Medicamentos orais para o tratamento de câncer (oncológicos);

• Medicamentos para o controle de efeitos colaterais da quimioterapia.

No entanto, a cobertura obrigatória não inclui todos os medicamentos de alto custo, principalmente aqueles destinados a condições raras ou que ainda não têm amplo reconhecimento pela ANS.

Diferença Entre Cobertura Ambulatorial e Hospitalar

Os planos de saúde podem ser classificados em diferentes modalidades, como ambulatorial, hospitalar ou referência (que combina ambas). Isso influencia diretamente na cobertura de medicamentos:

• Planos ambulatoriais: Geralmente cobrem consultas, exames e tratamentos realizados em consultórios ou clínicas, mas não incluem medicamentos de uso hospitalar.

• Planos hospitalares: Incluem internações e procedimentos realizados em hospitais, com a cobertura de medicamentos utilizados durante esses eventos.

• Planos de referência: Combinam as coberturas ambulatorial e hospitalar, garantindo acesso mais amplo a medicamentos e tratamentos.

Medicamentos Fora do Rol da ANS

Mesmo que um medicamento de alto custo não esteja listado no Rol da ANS, há situações em que os tribunais podem determinar que o plano de saúde forneça o medicamento. Isso ocorre, por exemplo, quando há comprovação de que o medicamento é essencial para a saúde do paciente e não há alternativas viáveis disponíveis.

Contratos de Planos de Saúde

Além do Rol da ANS, é importante analisar o contrato específico do plano de saúde para verificar as cláusulas de cobertura. Alguns contratos podem oferecer cobertura mais abrangente, enquanto outros possuem limitações claras. Nos casos de negativa, a justificativa deve ser apresentada por escrito, e o paciente pode buscar alternativas para contestar essa decisão.

Negativa de Cobertura de Medicamentos

Os planos de saúde podem negar a cobertura de medicamentos com base em algumas alegações comuns, como:

• Medicamento não estar no Rol da ANS;

• Medicamento ser experimental ou não registrado na Anvisa;

• Medicamento não estar previsto no tipo de cobertura contratada (ambulatorial ou hospitalar).

Essas negativas podem ser questionadas judicialmente, especialmente se houver risco de vida ou agravamento da condição do paciente.

2. Verificando o Motivo da Recusa

Ao receber uma negativa de cobertura para medicamentos de alto custo pelo plano de saúde, o primeiro passo é entender o motivo alegado para a recusa. Essa análise é fundamental para determinar a melhor forma de contestar a decisão e garantir o acesso ao tratamento necessário.

Negativa Escrita: Um Direito do Paciente

De acordo com a Lei nº 9.656/98, que regulamenta os planos de saúde no Brasil, toda negativa de cobertura deve ser comunicada ao paciente de forma clara e por escrito. Esse documento deve especificar o motivo exato da recusa, fornecendo subsídios para que o paciente possa avaliar as possibilidades de recurso. Caso o plano de saúde se recuse a emitir essa justificativa, o paciente pode denunciar a operadora à Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS).

Principais Motivos Alegados pelos Planos de Saúde

1. Medicamento Fora do Rol da ANS:

Um dos motivos mais comuns para a recusa é o fato de o medicamento solicitado não constar no Rol de Procedimentos e Eventos em Saúde da ANS. No entanto, decisões judiciais têm reiterado que o rol é apenas uma referência mínima e que medicamentos não listados podem ser obrigatórios se forem considerados indispensáveis para o tratamento.

2. Tratamento Experimental:

Quando o medicamento solicitado ainda está em fase de estudos clínicos ou é considerado experimental no Brasil, o plano de saúde pode negar a cobertura. Contudo, se o médico responsável pelo paciente justificar a necessidade do medicamento e não houver alternativa terapêutica disponível, é possível contestar a decisão judicialmente.

3. Ausência de Registro na Anvisa:

Medicamentos sem registro na Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) geralmente são recusados pelos planos de saúde. No entanto, casos excepcionais, como tratamentos para doenças raras, podem ser objeto de análise específica, inclusive judicial.

4. Falta de Prescrição Médica Adequada:

Se a prescrição médica não estiver clara ou detalhada, o plano de saúde pode alegar que o medicamento não é essencial para o tratamento do paciente. Por isso, é crucial que a receita contenha informações detalhadas, como a necessidade do medicamento, dosagem, período de uso e a justificativa do médico.

5. Medicamento para Uso Ambulatorial:

Alguns planos de saúde alegam que medicamentos para uso domiciliar ou ambulatorial não são cobertos, especialmente em contratos mais antigos. Contudo, medicamentos oncológicos de uso oral, por exemplo, são obrigatoriamente cobertos, conforme determina a legislação vigente.

Como Identificar a Legalidade da Recusa

Depois de receber a justificativa escrita, é essencial avaliar se a recusa está em conformidade com a lei e o contrato firmado. Para isso, algumas ações podem ajudar:

• Revisar o contrato do plano de saúde: Verifique os limites de cobertura contratados, como abrangência geográfica, tipo de cobertura (ambulatorial ou hospitalar) e exclusões previstas.

• Consultar o Rol da ANS: Confira se o medicamento solicitado está listado no rol, lembrando que a ausência no rol não invalida automaticamente o direito ao fornecimento.

• Analisar a prescrição médica: A prescrição deve ser clara, assinada por um médico habilitado, e incluir informações detalhadas sobre o tratamento.

• Buscar orientação jurídica: Em casos de dúvida, um advogado especializado em saúde pode avaliar a situação e sugerir os próximos passos.

Quando a Recusa é Indevida

Mesmo que o plano de saúde apresente uma justificativa formal, existem situações em que a recusa pode ser considerada ilegal ou abusiva. Isso ocorre principalmente quando:

• O medicamento é indispensável para preservar a vida ou a saúde do paciente.

• Há indicação médica clara e não existem alternativas disponíveis no mercado.

• A recusa coloca o paciente em risco iminente ou agrava sua condição.

3. Ação Judicial: O Caminho da Judicialização

Quando um plano de saúde nega a cobertura de um medicamento de alto custo essencial ao tratamento do paciente, recorrer ao Judiciário pode ser a única alternativa para garantir o direito à saúde. O processo de judicialização, embora seja um recurso extremo, é amplamente utilizado no Brasil, especialmente diante de recusas que colocam em risco a vida e a qualidade de vida do paciente.

Quando Recorrer à Justiça?

A judicialização deve ser considerada quando todas as alternativas administrativas foram esgotadas. Isso inclui:

• Negativa Formal do Plano de Saúde: O paciente deve solicitar que o plano justifique a recusa por escrito. Essa justificativa será uma peça central no processo judicial.

• Ausência de Solução no SAC: Se o plano de saúde não apresentar uma solução viável por meio de seu Serviço de Atendimento ao Cliente, o próximo passo pode ser buscar um advogado ou defensor público.

• Risco à Vida ou à Saúde: Em situações emergenciais, em que o atraso no tratamento pode causar agravamento da doença ou morte, o ingresso imediato de uma ação judicial pode ser a melhor alternativa.

Documentação Necessária

Para ingressar com uma ação judicial, o paciente deve reunir a maior quantidade possível de documentos que comprovem a necessidade do medicamento e o direito à cobertura. Esses documentos incluem:

1. Relatório Médico: Um documento detalhado do médico responsável pelo tratamento, especificando a necessidade do medicamento, os riscos de não utilizá-lo e a inexistência de alternativas terapêuticas.

2. Negativa do Plano de Saúde: A justificativa por escrito fornecida pelo plano, explicando os motivos da recusa.

3. Receitas e Orçamentos: Prescrições do medicamento e orçamentos que comprovem o custo elevado do tratamento.

4. Contrato do Plano de Saúde: Para verificar as cláusulas contratuais relacionadas à cobertura de medicamentos.

5. Exames e Laudos Médicos: Evidências que demonstrem a condição clínica do paciente e a urgência do tratamento.

Tipos de Ação Judicial

O paciente pode ingressar com diferentes tipos de ações judiciais, dependendo da urgência do caso:

1. Ação Ordinária: É a mais comum e busca a garantia do medicamento com base no direito à saúde e nas obrigações contratuais do plano.

2. Tutela de Urgência: Em casos emergenciais, é possível solicitar uma liminar (decisão provisória) que obrigue o plano de saúde a fornecer o medicamento imediatamente. Essa medida é usada quando há risco iminente de vida ou agravamento da saúde.

3. Ação de Indenização: Caso a negativa do plano de saúde tenha causado danos morais ou materiais ao paciente, é possível buscar reparação financeira.

Fundamentos Jurídicos

As ações judiciais envolvendo medicamentos de alto custo geralmente têm como base os seguintes fundamentos legais:

1. Constituição Federal: O artigo 196 estabelece que a saúde é direito de todos e dever do Estado, podendo ser aplicado ao setor privado no caso de planos de saúde.

2. Código de Defesa do Consumidor: Protege o consumidor contra cláusulas abusivas e práticas que coloquem em risco sua saúde ou segurança.

3. Lei dos Planos de Saúde (Lei nº 9.656/1998): Determina as obrigações mínimas de cobertura dos planos de saúde, complementando o Rol de Procedimentos da ANS.

4. Jurisprudência: Diversas decisões judiciais já reconhecem a obrigatoriedade dos planos de saúde de cobrir medicamentos, mesmo fora do Rol da ANS, quando a necessidade do tratamento é comprovada.

Prazo para Decisão Judicial

A depender da urgência e da complexidade do caso, as decisões judiciais podem ser proferidas em diferentes prazos:

• Liminares: Podem ser concedidas em poucos dias, garantindo o fornecimento imediato do medicamento.

• Decisões Finais: Em média, um processo completo pode levar meses ou até anos, mas o paciente já poderá estar usufruindo do tratamento caso tenha obtido a liminar.

Custos do Processo Judicial

Os custos de uma ação judicial incluem honorários advocatícios e possíveis despesas com peritos ou outros documentos. Contudo, pacientes que não possuem condições financeiras podem solicitar justiça gratuita, isentando-se dessas despesas.

Acompanhamento do Processo

Após ingressar com a ação, é importante que o paciente ou seu representante acompanhe regularmente o andamento do processo. Manter contato com o advogado e garantir que todos os prazos sejam cumpridos é essencial para evitar atrasos ou prejuízos.

O Papel do Ministério Público

Em alguns casos, especialmente quando envolve direitos coletivos ou pacientes em situação de vulnerabilidade, o Ministério Público pode atuar no processo, reforçando a argumentação jurídica e buscando celeridade na decisão.

4. Programas de Assistência Farmacêutica

Além da judicialização, outra alternativa é buscar programas de assistência farmacêutica que oferecem medicamentos de alto custo de forma gratuita ou com grandes descontos. Alguns desses programas são oferecidos pelos próprios laboratórios farmacêuticos, especialmente para medicamentos que são usados para o tratamento de doenças raras e crônicas.

Estes programas variam de acordo com o medicamento e o fabricante, e as condições para participar podem incluir a comprovação da doença, o número de doses solicitadas e o cadastro em sistemas específicos. Vale a pena buscar informações diretamente com os laboratórios ou com associações de pacientes que tratam de doenças específicas.

Exemplos de Programas:

• Programas de Assistência de Laboratórios: Muitos laboratórios oferecem medicamentos gratuitamente ou com descontos substanciais para pacientes que atendem a certos critérios.

• Farmácias Populares: Embora essas farmácias não cubram todos os medicamentos de alto custo, algumas oferecem opções de remédios mais baratos para doenças crônicas, e o paciente pode ser orientado a verificar as opções disponíveis.

5. Buscar o SUS para Medicamentos de Alto Custo

Em alguns casos, o Sistema Único de Saúde (SUS) pode fornecer medicamentos de alto custo, especialmente para pacientes com doenças raras ou graves. No entanto, o fornecimento desses medicamentos pelo SUS pode ser limitado, com dificuldades de acesso devido a questões logísticas ou a falta de medicamentos específicos.

Como o SUS pode ajudar:

• Requisição médica e cadastro no SUS: O primeiro passo para tentar obter o medicamento de alto custo pelo SUS é solicitar ao médico que forneça a prescrição e encaminhe a requisição para o Sistema de Regulação de Medicamentos do SUS. O processo pode ser demorado e depender da disponibilidade do medicamento.

• Centros de Assistência Especializada: O SUS possui centros especializados para o tratamento de doenças raras e condições graves. Esses centros podem ajudar a encaminhar o paciente para programas de fornecimento de medicamentos de alto custo.

Embora o SUS seja uma opção viável, é importante ter paciência, pois pode haver uma longa fila de espera ou dificuldades de acesso.

6. Buscar Medicamentos no Mercado Privado

Se todas as alternativas acima não forem viáveis ou não estiverem funcionando, o paciente pode considerar comprar o medicamento diretamente no mercado privado. Embora essa seja uma opção mais cara, ela pode ser uma solução temporária para garantir a continuidade do tratamento.

Para buscar medicamentos de alto custo no mercado privado, o paciente deve:

• Pesquisar diferentes farmácias e distribuidores para comparar preços.

• Verificar programas de descontos ou parcerias com farmácias que podem oferecer o medicamento a preços mais acessíveis.

• Verificar se existem iniciativas de grupos de pacientes que compram medicamentos em conjunto para reduzir o custo.

7. Alternativas Terapêuticas

Em alguns casos, o medicamento de alto custo pode ser substituído por alternativas terapêuticas menos dispendiosas, mas que ofereçam resultados semelhantes. Essa opção deve ser discutida com o médico responsável, que pode sugerir medicamentos mais acessíveis, embora possa não ter o mesmo efeito.

8. Consultar Organizações Não Governamentais (ONGs)

Algumas ONGs trabalham com o objetivo de apoiar pacientes que não têm acesso a medicamentos de alto custo. Elas podem ajudar na busca por alternativas de tratamento, oferecer programas de assistência financeira ou fornecer informações sobre opções de obtenção de medicamentos.

Conclusão

Conseguir medicamentos de alto custo sem cobertura do plano de saúde pode ser um grande desafio, mas existem diversas alternativas que podem ajudar o paciente a garantir o tratamento necessário. A judicialização da saúde, os programas de assistência farmacêutica, o SUS, o mercado privado e a busca por alternativas terapêuticas são algumas das opções disponíveis. Em todos os casos, é essencial contar com o apoio de médicos, advogados especializados e organizações de apoio para garantir que o direito à saúde seja respeitado.